Para o escritor Carlos do Drummond de Andrade ‘uma pedra no meio do caminho’ vira poesia. Para o engenheiro mecânico José Artur Padilha as pedras no curso de um riacho intermitente transformam-se em barragens ecologicamente sustentáveis e de baixo custo. Desde 1969, Padilha desenvolve essa experiência de convívio com a seca aproveitando as águas pluviais na Fazenda Caroá, município de Afogados da Ingazeira, sertão do Pajeú pernambucano.
Em 2010 o Ministério do Meio Ambiente reconheceu a experiência inovadora para revitalização de bacias hidrográficas idealizada por José Padilha. O Conceito Base Zero foi considerado um programa modelo na conservação e recuperação de solos, água e biodiversidade. A cerimônia de premiação vai ser realizada no próximo dia 08 de dezembro em Brasília.
Pela primeira vez em quatro décadas, os barramentos em série erguidos com pedras secas sem utilização de argamassa estão recebendo o financiamento do Governo Federal, fruto de um convênio entre a Codevasf e Cooperativa de Energia, Comunicação e Desenvolvimento do Alto Pajeú, Ceralpa.
Através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Companhia direcionou R$ 430 mil para a construção de 90 barramentos nas microbacias Carapuças e Matinha, em Afogados e Carnaíba, respectivamente. Elas têm em média 2.000 ha de área e uma população rural de 60 famílias.
Por ser uma tecnologia hídrica de baixo custo que não degrada o meio ambiente, de fácil aplicação pelo homem do campo e uma fonte de emprego e renda, Padilha aponta o Conceito Base Zero como proposta objetiva e imediata para erradicar a miséria no Brasil. “O CBZ revela-se convincentemente habilitado para promover uma emancipação econômica ecologicamente sustentável dos produtores rurais do semiárido,” acredita Padilha.
Além de controlar o processo erosivo nas microbacias gerado no período chuvoso, os barramentos proporcionam o armazenamento de água subterrânea a poucos centímetros da superfície e a formação de terraços férteis com os sedimentos transportados pela chuva e os materiais orgânicos decompostos. Nesses baixios, os agricultores cultivam feijão, milho, mandioca e algumas frutíferas para consumo familiar.