Seca no Nordeste obriga criadores de gado a deixar Pernambuco

Em maio deste ano nove mil animais foram levados de Pernambuco para o Maranhão e o Pará. Agora, a fuga em busca da sobrevivência tomou outro caminho: Alagoas.

A pior seca das últimas três décadas no Nordeste obrigou criadores de gado a deixar uma região que já foi umas das mais prósperas de Pernambuco. Eles fogem da estiagem e também de uma praga, como mostra a repórter Beatriz Castro.

Currais vazios, sítios abandonados, pequenos produtores à beira do desespero na bacia leiteira pernambucana.

"Não tem mais como eu continuar nesta vida aqui não", disse o pecuarista Luiz Neto Julião Martins.

Os bezerros disputam a casca seca da algaroba, árvore típica do Nordeste. Sem conseguir alimentar todo o rebanho, o pecuarista Jerônimo Bezerra da Silva Júnior teve que vender 40 dos 50 animais que criava. A produção de leite despencou de 280 litros por dia para 30.

"Não tem ração. Eu estou dividindo o meu pão com as vacas", contou Jerônimo.

Situação que se repete em muitos lugares do estado.

"Teve uma redução de aproximadamente oitenta por cento do rebanho leiteiro e da produção de leite do município", afirmou José Evandro Leite Torres, do Instituto Agronômico de Pernambuco.

Em maio deste ano nove mil animais foram levados de Pernambuco para o Maranhão e o Pará. Agora, a fuga em busca da sobrevivência tomou outro caminho: Alagoas.

Os pecuaristas e rebanho estão longe de casa. Mais de 200 quilômetros separam a bacia leiteira de Pernambuco, de batalha, no sertão de Alagoas.

Os dois estados vizinhos foram atingidos pela seca, mas em Pernambuco, existe um agravante: a palma, o alimento que sustenta o rebanho nos dias mais difíceis da seca, desapareceu das plantações.

Uma praga conhecida por cochonilha do carmim dizimou o plantio em áreas de Pernambuco. O jeito foi juntar os parentes, os amigos, as economias e arrendar terras em Alagoas, onde o gado ainda tem palma pra comer.

“Está gastando tudo e tem que gastar. É melhor do que perder tudo”, revelou pecuarista José Soares da Silva.

Cerca de 20 pecuaristas pernambucanos e mais de mil animais, estão em Batalha, esperando dias melhores pra voltar pra casa.

“Quando é que você volta?”, perguntou a repórter.

“Só Deus sabe”, respondeu José Vieira Paz.

A Secretaria de Agricultura de Pernambuco declarou que está atendendo um milhão cento e cinquenta mil pessoas com linhas de crédito emergenciais, com programas sociais e com a distribuição de água em caminhões-pipa. O Instituto Agronômico do Estado informou que já está distribuindo variedades de palma resistentes a pragas.